Se vocês não sabem
Agora eu vou contar
Que Pilar já foi grande
Pois até Campina Grande
Já pertenceu a Pilar!
As suas terras se estendiam
No período colonial
De Cruz do Espírito Santo
Às divisas de Pombal!
Mas os anos foram passando
E seus filhos foram crescendo
E novas cidades foram
No seu solo aparecendo!
Pois Itabaiana e Gurinhém,
Caldas Brandão (o Cajá)
E Cruz do Espirito Santo,
Todos pertenceram a Pilar!
Sem falar em Juripiranga,
A Serrinha popular,
E São Miguel de Taipú,
Terra do Itapuá.
E por ultimo São José dos Ramos
Também quis se libertar,
E Pilar foi se tornando
Somente a nossa Pilar!
Pilar nasceste grande
E teu amor sempre nos põe;
Pilar terra querida,
Pilar CIDADE MÃE! CHIBATA PRETA
Quem é que não se lembra
De uma negra, CHIBATA,
Que morava na Estação
E cozinhava em uma lata?
Eu vinha de Chã de Areia,
Por Figueiredo passava,
E chegando na Estação
Chibata Preta encontrava!
Conhecida por Chibata,
Chibata, Chibata Preta;
A pobrezinha, coitada,
Não tinha estudo nem letra!
Era uma pobre indigente
Que morava bem ao léu;
Tinha por cama o chão
E por cobertor, o céu!
Era um amontoado de lixo
Na margem daquela rua;
Era a “casa” da Chibata
Iluminada pela lua...
E por que “Chibata Preta”,
Também queres entender?
Não era porque tinha uma chibata
Para se mesma defender...
Era porque a pobrezinha,
Que cozinhava em uma lata,
Era magra e pretinha
Parecendo uma chibata!...
Era a Chibata Preta
Conhecida no Pilar E também da região
Que vinha nos visitar.
Era o terror das crianças Aquela negra Chibata,
Que morava na Estação
E cozinhava em uma lata!...
Mas um dia a pobrezinha
Partiu da nossa cidade;
Pois passava frio e fome,
Tamanha necessidade!
E Pilar ainda se lembra,
E alguns sentem saudade Daquela mulher pretinha...
Que partiu pra eternidade!
ANTONIO COSTTA
RELEMBRANDO O POETA MANOEL XUDU
Manoel Xudu Sobrinho foi um homem simples, generoso, eternamente cavalheiro, incapaz de um ato ríspido, mesmo nas horas em que sua tranqüilidade corresse o risco de ser ameaçada. Nem por isso deixou de ser um poeta atormentado, de permeio, entre “o mundo e o nada”, o pranto e o riso. Natural do município de Pilar, na Paraíba, conterrâneo de José Lins do Rego e de João Lourenço, violeiro em plena atividade profissional.
"DIA 13 DE MARÇO TERÇA-FEIRA ANO MIL NOVECENTOS TRINTA E DOIS POUCO TEMPO DEPOIS QUE O SOL SE PÔS MAMÃE DAVA GEMIDOS NA ESTEIRA NUMA CASA DE BARRO E DE MADEIRA MUITO HUMILDE COBERTA DE CAPIM EU NASCI PRA VIVER SOFRENDO ASSIM MINHA DOR VEM DOS TEMPOS DE MENINO VIVO TRISTE POR CAUSA DO DESTINO E A SAUDADE CORRENDO ATRÁS DE MIM."
A obra de Xudu exige um conhecimento maior desse gênio do repente. Cada estrofe é um monumento de Arte, a expressar uma cascata de emoções que despenca em uma alma profundamente humanística”.
MAMÃE QUE ME DAVA PAPA
ME DAVA PÃO E CONSOLO
DAVA CAFÉ DAVA BOLO
LEITE FERVIDO E GARAPA
MAS UMA VEZ DEU-ME UM TAPA
E DEPOIS SE ARREPENDEU
BEIJOU AONDE BATEU
DESMANCHOU A INCHAÇÃO
“QUEM NÃO TEM MÃE TEM RAZÃO
DE CHORAR O QUE PERDEU”. Xudu era tudo isso, dentro de uma simplicidade tamanha, ele abordava os temas mais profundos, com a maior presteza:
SOU IGUALMENTE A PIÃO SAINDO DE UMA PONTEIRA QUE QUANDO BATE NO CHÃO CHEGA LEVANTA A POEIRA COM TANTA VELOCIDADE QUE MUDA A COR DA MADEIRA.
A arte do improviso alimentava corpo e alma deste poeta que nasceu no distrito de "São José de Pilar" (hoje São José dos Ramos). Bom tocador de viola, o que é um tanto raro dentre os repentistas. Ele e Severino Ferreira quando se deparavam, o “cancão piava”, no desafio só de viola. Gostava de uma “branquinha”. Meu Deus! Às vezes os próprios colegas o prendiam num quarto, até de motel, contanto que ele estivesse bom para o desafio noturno dos “Festivais”.
“O HOMEM QUE BEM PENSAR
NÃO TIRA A VIDA DE UM GRILO
A MATA FICA CALADA
O BOSQUE FICA INTRANQÜILO
A LUA FICA CHOROSA
POR NÃO PODER MAIS OUVI-LO.”
Certa vez Xudu estava cantando e um camarada, meio bêbado, oferecia-lhe cerveja e insistia: "Olha a cerveja, Manoel ! Toma a cerveja!..." Manoel desembuxou e disse:
DEIXE DE SUA IMPRUDÊNCIA
DEIXE EU FINDAR A PELEJA
COMO É QUE EU POSSO CANTAR
TOCAR E TOMAR CERVEJA
CACHORRO É QUE TEM TRÊS GOSTOS
QUE CORRE, LATE E FAREJA.
Manoel Xudú é considerado pelos violeiros e cantadores como o maior repentista do Brasil.
Minha jóia, meu diamante, A terra que a todo instante Recordo na minha vida; Em ti projeto a lembrança Do meu tempo de criança Na Chã de Areia querida!
Minha terra tão pequena Quem dera neste poema O meu amor expressar; Num verso puro e sereno, No meu cantar tão pequeno, Quero pra sempre te amar!
Quem dera viver contigo Nas asas do teu abrigo Sem temer qual seja a sorte; Muito mais feliz seria Vivendo aqui todo dia, Até chegar minha morte!
Que Deus te abençoe, minha terra, Que reine a paz não a guerra Neste pedaço de chão; Que não apenas te enganem, Mas que as pessoas te amem De todo seu coração!
Que a Paraíba não pare, Que o governo declare Fazer-te bem mais notória; Sem nenhum demagogismo Desenvolver o turismo, Porque Pilar é história!
Por José Lins que é da gente, Manoel Xudú no repente, Zé Auguto na poesia; Minha Pilar tão formosa, Eu te ofereço esta rosa... Meus parabéns neste dia!
Pela bravura do povo, Pelo sonhar com um novo Tempo, melhor do que tens; Pra o velho, o jovem e a criança, Por não perder a esperança, Minha Pilar... Parabéns!!!