PALAVRAS À LIRA DE
ANTONIO
(Texto de apresentação do livro “Lira dos Quarenta Anos”)
Pilar, terra de José Lins do Rego, romancista que ao lado de José Américo
de Almeida e Augusto dos Anjos completa a conhecida trilogia sagrada da
literatura paraibana. Inscritos na literatura nacional, Augusto, singular poeta
brasileiro, José Américo abridor da literatura regional e José Lins festejado
continuador do regionalismo. Portanto, se é privilégio pisar neste solo
histórico, é ousadia e glória falar ante um chão tão nobre. Fui, entretanto,
convidado. Devo fazê-lo.
Na fé católica, a imagem do Cristo (Deus-homem) foi registrada no
misterioso véu que colheu o suor do seu rosto e acolheu a sua vida: o Santo
Sudário. Assim, imitando Jesus, percorremos um caminho secretando suores que
são recolhidos nos mantos das nossas vidas. Nelas, onde transitam
circunstantes. Familiares, amigos e estranhos. Enfim, todas as criaturas que
conosco coabitam espaço de lídimo enredo.
Dez, vinte, trinta, quarenta anos de caminhada, apresenta-nos hoje o
poeta Antonio Costta. E nesta lida inscreve a sua poesia no seu sudário.
Antonio pertence ao gênero daqueles que vaticinam caminhos, os poetas. Aqueles
que se comovem e, comovidos, exaltam a sua comoção. O texto que ora tenho a
honra de louvar registra as suas experiências. As que acometeram o seu espírito
de poeta e pulsam em linguagem nuclear. Em expressão além do mero discurso
linear, língua dos espíritos, poesia.
Nessa língua é que desejo homenagear Antonio, permitindo-me traduzir
sentimentos. Acreditando que a sua alma, receptáculo de lembranças, sangrou em
versos. E a saudade acolheu o líquido rubro. E reminiscências, uma após outra,
como um bando de pássaros, rasgaram os céus de um tempo apaixonado e condoído.
E pousaram em valhacouto, ao abrigo.
Assim, senhoras e senhores, eu busco sintetizar a “Lira dos quarenta
anos” de Antonio Costta, companheiro no fórum poético internacional “Poesia
Pura”. Fórum onde se encontram ainda, entre tantos outros, Odir Milanez,
Fernando Cunha Lima e Damião Cavalcanti, diretor do espaço em língua portuguesa
e que, a exemplo de Antonio, é filho ilustre desta terra.
Pilar pertence à pequenina Paraíba. Estado que se eleva em seus talentos.
Sendo mãe de Augusto dos Anjos teve a poética acima dos movimentos literários
vigentes, antecipando-se no início do século XX à poesia moderna. O autor do
Eu, com um discurso real e inovador com força vocabular científica e coloquial,
nasceu e habitou estas cercanias, e disse de sua natureza. Lembrando o
corrupião, sofreu com o pássaro preto e vermelho que se faz preto e amarelo
enjaulado na gaiola.
Se Augusto, poeta universal, inscreveu o pássaro sem liberdade, o
escaveirado corrupião idiota, Antonio, vizinho de Augusto, vivenciando a mesma
natureza, registrou o passarinho aprisionado que canta um choro de solidão.
A poesia, inefável, contém beleza infinita e será sempre eterna,
imprescindível aos homens de todos os logos, de todos os tempos. Poesia esse
ente estranho. Popular ou erudita, maior ou menor, imponderável. Por assim ser,
é sempre louvada.
Mas, para que serve a poesia? Ferreira Gullar nos responde: “A poesia é
uma colocação diante da realidade (...) porque a única coisa que a poesia faz é
comover. A poesia não cura dor de dente, não resolve problema econômico, não
desintegra o átomo (...) afinal, a realidade do mundo é insuportável. Por isso
se faz poesia, se faz arte, se faz música”.
Com igual sentimento, aqui viemos apresentar este livro. Celebrar com
todos vocês a poesia de Antonio Costta, repertório dos seus quarenta anos. Com
ele o poeta quis nos emocionar. Por isso, repito, com declarada insuficiência
busquei traduzir sentimentos, sangria da carne, comoção. A emoção do poeta que
nos comove!
ASTENIO CESAR
FERNANDES
(Da Academia Paraibana de Letras)
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